Jocy de Oliveira, ícone da música contemporânea, ganha, enfim, homenagens em Curitiba
Mostra, que vai de 20 a 25 de maio, apresenta
a pluralidade da artista curitibana
Jocy de Oliveira é compositora, pianista, escritora e cineasta. Reside no Rio de Janeiro. Curitiba quase sempre foi um retrato na parede, à espera de uma reflexão da artista, nascida no bairro do Batel. Ano passado a artista lançou o livro "Alucinações Autobiográficas", em que Jocy conta para um personagem fictício como foram seus antepassados, a primeira infância, a presença feminina na sua família. Curitiba volta ao destino de Jocy neste mês de maio com a realização de algo inédito em sua vida: um evento que traz um pouco da sua produção em cinema, música e literatura e -claro- muito da sua personalidade. A "Mostra Jocy de Oliveira-uma artista curitibana" inicia em 20 de maio e estende-se até o dia 25, com entrada franca ao público. Ela foi idealizada e produzida por Alvaro Collaço. Realizada com recursos do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura – Fundação Cultural de Curitiba, da Prefeitura Municipal De Curitiba, do Ministério da Cultura e do Governo Federal, com apoio do ICAC-Instituto Curitiba de Arte e Cultura, Museu Alfredo Andersen e da Secretaria de Estado da Cultura, Unespar e Embap.
"A ideia é proporcionar um encontro de Jocy com artistas e público da cidade. E que o público tenha acesso a sua obra", comenta Alvaro Collaço, que pela segunda vez traz Jocy a Curitiba para apresentar a sua arte. Anteriormente, em 2013, ele trouxe a ópera "Sol(o)", encenada na Capela Santa Maria. "Agora o espectro será maior. Haverá um contato pessoal da artista por meio de conversa e palestra, além de filme, concerto e lançamento de livro. Importante será a participação de artistas curitibanos ou que residem aqui - Lilian Nakahodo, Sérgio Albach , Felipe Ribeiro e da principal intérprete de Jocy de Oliveira, a soprano carioca Gabriela Geluda".
Jocy está empolgada. "Essa Mostra em Curitiba, significa uma volta à memória, ao sonho, aos quintais de minha infância. Reavivar esta memória é um evento importante depois de tantos anos coroados pelo meu novo e recente livro Alucinações autobiográficas", diz Jocy.Este trecho do livro dá bem a dimensão do que ele representa:
"Se as memórias me são sopradas pelo inconsciente ou pela faixa onírica da imaginação, não sei.
E isso importa? O que importa é que hoje, ao examinar as imagens que meu olhar de criança captou, posso fazer uma leitura muito mais profunda ou decodificar códigos incompletos que se transformam em eventos vividos mais tarde na minha vida.
Precisei viver muitas décadas para conseguir a chave que abre metáforas e enxerga por meio de arquétipos. Será que aqueles anos de infância foram a síntese do que eu viria a viver no futuro?"
PROGRAMAÇÃO DA MOSTRA
A Mostra gratuita inicia-se em 20 de maio, terça-feira, com uma conversa, no Memorial de Curitiba, entre Jocy e Felipe Ribeiro, compositor e professor da EMBAP. Será como uma espécie de apresentação da artista sua história e importância ao público curitibano.
Nos dias 21 e 25 de maio, quarta-feira e domingo, a Mostra prossegue na Cinemateca com a exibição de "LiquidVoices - A história de Mathilda Segalescu", que representa um ambicioso projeto de uma concepção da música e roteiro, visando a mescla da linguagem de cinema e ópera. O filme estreou no Festival de Londres em 2019 e foi premiado em 9 festivais de cinema na Europa, Israel, Estados Unidos e Chile. Está disponível no Brasil, em várias plataformas streaming e é mundialmente distribuído pela NAXOS.
No dia 22 de maio a Mostra terá um concerto com obras musicais de Jocy, na Capela Santa Maria. Participam da apresentação Gabriela Geluda, Lilian Nakahodo e Sérgio Albach. Geluda é soprano, atriz e professora, considerada a principal intérprete da música de Jocy, com 30 anos de colaboração em óperas, discos e filmes. Lilian Nakahodo é pianista trabalha com música contemporânea. Em 2011 gravou CD com obras de John Cage, e atualmente integra o coletivo "Piano Vero". Sérgio Albach é um dos principais claronistas do país e reconhecido clarinetista, além de diretor da Orquestra à Base de Sopro.
Uma palestra com Jocy, no Auditório Praça Tiradentes, da Escola de Música e Belas Artes acontece no dia 23, sexta-feira, às 15h, para os alunos da Belas Artes e interessados. E no dia 24, sábado, às 10h30, haverá o lançamento do livro "Alucinações Autobiográficas" no Museu Alfredo Andersen. Publicado pela Relicário Editora, o livro foi produzido em 2024. No Museu haverá ainda a solenidade de doação por Jocy de um quadro de seu acervo pessoal, pintado por Andersen, em 1894.
MAS, QUEM É JOCY DE OLIVEIRA?
Jocy nasceu em Curitiba e possui hoje 89 anos de idade. Como pianista, estudou com José Kliass em São Paulo, e Marguerite Long, em Paris. Fez carreira internacional, foi solista sob a regência de Igor Stravinsky, nos Estados Unidos. Apresentou diversas primeiras audições de compositores que a ela dedicaram obras, como Iannis Xenakis, Luciano Berio, Claudio Santoro e John Cage. Foi solista sob a regência de maestros como Eleazar de Carvalho, LukasFoss, SixtenEhrling e Robert Craft. Em outubro de 1954, sob a regência de Eleazar de Carvalho e na condição de solista da Orquestra Sinfônica Brasileira, Jocy de Oliveira participou da primeira inauguração do Guairão, em Curitiba.
A artista enveredou pela música contemporânea ainda nos anos 1960. "Apague meu Spotlight" - composta com Luciano Berio -, foi o primeiro evento de Música Eletrônica do Brasil e estreou em 1961 no Theatro Municipal de São Paulo. O espetáculo foi produzido por Ferreira Gullar, com direção e cenários de Gianni Ratto e Fernanda Montenegro e Ítalo Rossi no elenco.
Jocy tem no currículo a composição de nove óperas multimídia, aclamadas pela crítica no Brasil e exterior. Nelas utiliza instrumentos acústicos e eletrônicos e instalações com música, teatro e vídeos, buscando reformular o formato convencional operístico. Eleita para a Academia Brasileira de Música, Jocy é detentora desde 2015 do título de Doutor Honoris Causa pela UFRJ, Rio de Janeiro, e Mestre em Artes/Música pela Washington University,St Louis, USA.Gravou 25 discos no Brasil, Inglaterra, EUA, Alemanha, Itália e no México, e registrou nos Estados Unidos a obra pianística de Olivier Messiaen.
Na sua faceta de escritora, Jocy possui 8 livros. Por "Diálogo com cartas", lançado pelo SESI–SP em 2014, recebeu o Pêmio Jabuti. O livro foi também lançado em Paris pelas Editions Honoré Champion. Já como cineasta compôs oito vídeo-óperas, entre as quais "Berio sem Censura", "Revisitando Stravinsky"e "LiquidVoices"
SERVIÇO:
MOSTRA JOCY DE OLIVEIRA
Conversa entre Jocy de Oliveira e o professor e compositor Felipe Ribeiro
Data: 20 de maio|terça-feira
Local: Memorial de Curitiba - R. Dr. Claudino dos Santos, 79 - São Francisco
Horário: 19h30
Exibição de"LiquidVoices" – Ópera Cinemática. Direção Jocy de Oliveira
Data: 21 de maio|quarta-feira
Local: Cinemateca - R. Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco
Horário: 19h
Solos – Composições de Jocy. Com Gabriela Geluda-voz, Lilian Nakahodo-piano e Sérgio Albach-clarone
Data: 22 de maio|quinta-feira
Local: Capela Santa Maria Espaço Cultural-R. Conselheiro Laurindo, 273 - Centro.
Horário: 20h
Palestra de Jocy – "Postopera e diálogos"
Data: 23 de maio|sexta-feira
Local: Embap- Auditório Praça Tiradentes – Rua Saldanha Marinho, 131
Horário: 15h
Lançamento do livro "Alucinações Autobiográficas"
Data: 24 de maio|sábado
Local: Museu Casa Alfredo Andersen-Rua Mateus Leme 336
Horário: 10h30
Exibição de "LiquidVoices" – Ópera Cinemática. Direção Jocy de Oliveira
Data: 25 de maio|domingo
Local: Cinemateca - R. Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco
Horário: 19h
Foto : Lígia Amadio.